1984 e o terror do autoritarismo
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1984 é um dos livros mais famosos do escritor inglês George Orwell (1903-1950). Sendo considerada uma das maiores distopias já lançadas, a obra influenciou (e ainda influencia) diversos aspectos da sociedade. Por exemplo, o programa de TV Big Brother, teve seu nome derivado do Grande Irmão, o líder d'O Partido, a grande imagem do governo autoritário do Estado da Oceânia. Também temos vários outros elementos que até hoje são temas de debate, e são tão atuais que chega a ser assustador considerar que Orwell escreveu o livro há 70 anos.
1984 acompanha a vida de Winston Smith, funcionário d'O Partido, que começa a questionar a realidade onde vive, o governo e suas mentiras. Começa a pensar que talvez O Partido não seja algo realmente bom. E esse é seu pior crime: pensar.
Na Londres Orwelliana de 1984, pensar não significa morte. Pensar é a própria morte. Boa parte de nós já questionamos algumas atitudes do governo, já nos declaramos contra este ou aquele político, já tivemos debates sobre esta ou aquela lei, e isso é natural, afinal, vivemos em uma democracia, e democracias são os governos do povo. Porém, o que fazer quando o governo não só contra seus atos, suas falas, suas opiniões, mas também seu pensamento? O que fazer quando uma frase solta até durante o sono que vá contra o que o Grande Irmão diz significa sua prisão, tortura e possivelmente, a morte? Na distopia que Orwell nos descreve, não apenas não há democracia, como também não há liberdade nem na sua própria mente.
E talvez esse seja o ponto mais assustador da obra: a falta total de liberdade. Temos tanto costume em ser livres que acabamos nos esquecendo de quão ruim é não o ser. O Grande Irmão vê você em qualquer lugar. Qualquer lugar mesmo. Nem em sua própria casa há um pouco de segurança, com as teletelas vigiando cada movimento e conversa. Não é possível confiar nem na própria família, pois o governo usa as crianças para espionagem. Não há liberdade nem para amar, pois todo amor tem de ser dado ao Grande Irmão e à pátria.
Mas como O Partido controla o pensamento? Através da fala, ou melhor, da Novafala, e principalmente do duplipensamento. A Novafala é o idioma da Oceânia. Se o pensamento pode modificar a linguagem, por que não o contrário? Eliminam-se várias palavras, conceitos são unidos, e já não há mais nuances: por exemplo, não há coisas ruins, péssimas, ótimas, incríveis; apenas coisas boas e não boas. A Novafala tira qualquer possibilidade de se ter pensamentos complexos, afinal, como pensar com palavras que já não existem?
E então, há o duplipensamento. Orwell nos mostra uma realidade em que as pessoas tem de ser capazes de manter duas linhas de pensamento mesmo que estas sejam contraditórias entre si. Por exemplo, a mutabilidade do passado: é necessário pensar que o passado é mutável e que o quer que ocorra pode ser modificado, mas também sustentar que nada foi mudado, que os fatos são como sempre foram.
E tão assustador quanto tudo que foi citado é o fato de que O Partido é capaz de mudar o passado. O que aconteceu é o que O Partido diz que aconteceu. A realidade é o que O Partido diz ser realidade. Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente controla o passado, nos diz Orwell. O governo diz o que foi ou não real, mesmo que isso signifique mudar todas as fontes históricas, o que realmente acontece no Ministério da Verdade, e os cidadãos simplesmente devem aceitar.
1984 foi lançado após o fim da Segunda Guerra, em um contexto totalmente diferente do nosso contexto atual. Porém, atualmente, boa parte do que Orwell descreveu, acontece. Relatos de vigilância dos aparelhos eletrônicos pelo governo e sites são frequentes. O negacionismo mostra que é possível, sim, mudar o passado e fazer milhares acreditarem. A sociedade atual quase já não aceita nuances, como na política: ou você é de esquerda, ou de direita. Os governos autoritários já não são tão explícitos quanto antes, mas convém lembrar que a grande maioria dos sistemas autoritários era apenas um reflexo da sociedade da época: Hitler chegou ao poder por conta da pressão popular, tanto quanto Stalin, Mussolini, os militares no Brasil, Franco, Salazar, Mao Tsé-Tung, e muitos outros. O que nos distancia de trazer de volta tais governos são os direitos e liberdades individuais. Cabe a nós zelar por eles, e lutar para mantê-los. Ou o Grande Irmão irá nos ver.
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