Sapiens e o animal que quer fugir de si
Por Marcelo Ramos
Fonte: Amazon |
Sapiens é um livro de Yuval Harari, lançado em 2011 em Israel, e em 2014 ao redor do mundo. Harari é um professor de história israelense e especialista em macro-história, ramo que investiga tendências gerais ou de longo prazo na história do mundo. Autor de diversos livros que abordam esse tema, uma de suas obras mais famosas e impactantes é Sapiens - Uma Breve História da Humanidade.
Assustadoramente profundo e direto, o autor nos leva para uma jornada pela história humana, desde seus ancestrais, hábitos e vida pré-agricultura, até os dias de hoje, na era pós-moderna, e além, nos séculos que virão. Yuval Harari consegue nos mostrar que o ser humano é, apesar de todas evoluções científicas, tecnológicas e cognitivas, um animal, uma espécie das muitas outras que já habitaram nosso mundo, que eram parentes próximos aos Sapiens e que acabaram por ser extintos. Não somos especiais, ou escolhidos, segundo a história do mundo. Fomos, apenas, obra da natureza, e é sobre tal fato e seus desdobramentos que Harari fala.
Acompanhando três revoluções que ocorreram ao Homo Sapiens (Revolução Cognitiva, Revolução Agrícola e Revolução Científica, nessa ordem), o autor conta sobre a importância de certos fatos na nossa formação social: como, por exemplo, a descoberta de ferramentas, o começo da plantação do trigo, a geração de energia, a extinção de outras espécies de Homos, entre outros. É assustador como percebemos, durante a leitura, o ciclo autodestrutivo com o qual o ser humano sempre flertou, desde o seu início. Em uma das partes mais impactantes, por exemplo, Harari nos mostra que os Sapiens eram mais felizes, possuíam uma qualidade de vida maior quando eram nômades, e faz sentido. Como animais, muitos caminhos que tomamos nos levam em um rumo contrário ao que a nossa natureza nos dita.
Nietzsche, em A Genealogia da Moral, nos diz que: “Ele, o sempre ainda indômito, o eternamente futuro, que não mais encontra repouso perante sua própria impetuosa força, de modo que, para ele, seu futuro agrilhoa inexoravelmente como um esporão na carne de todo presente”. Ou seja, o homem é um animal doente, justamente por ser um animal mutável. Harari ilustra isso muito bem em seu livro, com demonstrações científicas e psicológicas que nos mostram que o progresso teve um custo.
E o progresso ainda terá um custo maior. Não é como se devêssemos deixar agora nossas casas e virar caçadores e coletores, ignorando todo o progresso da ciência. Pelo contrário, ainda são coisas importantes. Mas todo avanço nos trouxe um custo enorme, e surge a dúvida: Para onde vamos, agora?
Nosso planeta morre, nossa sociedade sofre com violências e problemas sem fim, e o homem, hoje, é capaz de realizar algo nunca visto antes: um tipo de seleção artificial. Hoje, podemos decidir, antes mesmo do nascimento de nosso filho, qual será a cor de seus olhos, sua predisposição para doenças, entre outros fatores, e se começamos, onde vamos parar? Se Hitler tivesse hoje o poder de manipulação genética que temos, que rumos a humanidade teria tomado? E quantos outros Hitlers e seus ideais arianos vão surgir com o Homo sapiens evoluindo pra uma espécie de Homo deus? Isso, resta a nós mesmos dizer.
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