O Sétimo Selo e um vazio inevitável
Por Marcelo Ramos
Eu, raramente, me sentia vivo. Ao mesmo tempo, raramente me sentia confortável para morrer. O "ia" pode remeter a passado, mas isso ainda acontece, embora com menos frequência. Enfim, era como viver em um vácuo entre o medo de morrer e o medo de viver. Haviam dias em que eu pendia mais para um lado que para o outro, ou vice-versa. E ok, isso são coisas da vida. Ironicamente, fugimos da morte, sendo que ela é a prova final de que estamos vivos.
Em O Sétimo Selo, Ingmar Bergman, um grande diretor com grandes filmes, nos traz uma perspectiva cruelmente real: um homem que está jogando xadrez com a morte em troca de sua vida. Acompanhamos aquele cavaleiro, conhecemos sua história e vemos que ele, tanto quanto eu, tanto quanto a maioria de nós, tem um medo latente da morte. Ou melhor, daquilo que vem depois. Afinal, a morte é o fim, e não há o que temer nela em si. O que assusta é o que vem depois, tanto para quem vai continuar aqui, quanto para quem vai embora. Em uma das cenas mais primorosas do cinema, de todos os tempos, o cavaleiro dialoga com a morte. Admite que não tem medo de morrer, apenas quer uma garantia. E é mais ou menos isso que buscamos.
Viver é dar um salto em direção ao escuro. Morrer é dar um salto em direção ao vazio. Não sabemos o que virá, mas sabemos que vai acontecer. A vida só é vida se morremos nela, mas como o cavaleiro, tudo o que queremos é conhecimento. O que vem depois? Igrejas e escolas são iguais em essência, de certa forma.
É fascinante a ideia de que a vida é jogar xadrez com a morte. A cada jogada, o risco está ali, mas não nos damos conta até que o final do jogo esteja próximo. E sabemos quem irá ganhar. Ela sempre ganha.
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