Admirável Mundo Novo: Um paraíso questionável
Por: Marcelo RamosFonte: Netmundi
Admirável mundo novo é um romance lançado pelo escritor inglês Aldous Huxley, em 1932. É um dos livros de maior importância do século XX, integrando um pódio também formado por 1984, de George Orwell, Nós, de Yevgeny Ivanovich Zamyatin, entre outros, como fundador e responsável da popularização das distopias.
O motivo pelo qual Admirável Mundo novo é tão importante é a sua representação de futuro, sombria, assustadora e, apesar de parecer irreal, faz cada vez mais sentido. No livro, temos um mundo governado por um sistema autoritário, mas que vai além do autoritarismo: o governo controla as pessoas antes mesmo de nascerem. Imaginem um mundo em que as pessoas não nascem da forma tradicional, mas são fabricados. E mais, são planejadas de modo a serem mais ou menos desenvolvidos, dependendo da classe social da qual fazem parte: se, por exemplo, você faz parte da classe mais alta, os Alfa+, tem uma ração de nutrientes completa, é gerado a partir de um óvulo sem divisões, tem oxigênio à vontade, nasce como uma pessoa alta e bela, entre outros. Já se sua origem é na classe mais baixa, os Epsilons, é gerado através de um processo de Bokanovsky, que vai dividir o óvulo em 72 embriões idênticos. Como se isso não fosse o único problema, você também tem sua ração de nutrientes baixa, seus níveis de oxigênio prejudicados, e nasce como uma pessoa mal desenvolvida, que é usada como escravo das classes mais altas, além de ser a maior parte da população. E, uou, isso é revoltante, por que eles não se rebelam? É simples, eles não têm ideia de que sua vida é ruim.
Agora, imagine um mundo onde ninguém é triste, porque não tem essa opção. Um mundo onde o uso de certa droga retira toda infelicidade que possa existir. Onde ninguém é de ninguém, e não há relacionamentos. Parece bom, não é? Essa é a realidade do livro, e acaba não sendo tão bom quanto parece: não há liberdade, não há amor familiar, não há nada que nos faça ser humanos, e isso é terrível para a humanidade, mas perfeita para o governo. Nas palavras de Huxley, "A ditadura perfeita terá a aparência da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravatura onde, graças ao consumo e ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão." Não há rebelião se não há rebeldes, e não há rebeldes se não há um sentimento de desagrado. Logo, o governo continua no poder, e a população não se importa se é usada.
Os únicos "sãos" de tal sociedade vivem em isolamento, em ilhas, ou em aldeias. E aqueles exilados são, por incrível que pareça, deixados em paz, já que não representam perigo e já é impossível retirar o governo de seu posto. Nosso herói é um homem que nasceu naturalmente, filho de uma mulher que fazia parte da sociedade que se perdeu em um passeio, acabou parando em uma das aldeias de nativos e dando à luz, algo que é repudiante no mundo do livro. Mãe e filho são levados de volta ao mundo moderno para comprometer um diretor importante, pai do garoto. Desde seu aparecimento, temos a esperança de que o herói, chamado de "selvagem" mude aquele mundo, mude a sociedade, mesmo sabendo que é impossível uma única pessoa acabar com aquele governo que dura séculos. E isso não acontece. O "selvagem" é dobrado pelo admirável mundo novo. Tal qual Winston foi pelo Partido, e a maioria dos heróis de distopias são. Não é possível lutar contra um governo de autoridade tal. Nossa única opção é evitá-lo. E nossa única arma real é a consciência política e nossos direitos. Cabe a nós evitar com garras e dentes que nosso mundo se torne como as admiráveis distopias.
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