Coisas que perdemos para sempre

Por Marcelo Ramos
A Morte de Sócrates, de Jacques-Louis David

Quando, em 399 a.C., Sócrates foi condenado a morte, suas últimas palavras foram: "Críton, somos devedores de um galo a Asclépio; pois bem, pagai a minha dívida", segundo escreveu Platão. Sócrates morreu acusado de corromper a juventude. Sócrates não deixou nenhum livro, e todos os seus ensinamentos vêm a nós por meio de seu discípulo Platão. Boa parte das palavras de Sócrates são coisas que perdemos para sempre. 

Em 33 d.C., Jesus Cristo foi crucificado, acusado de traição, por conta de sua filosofia, principalmente. Você pode não ser adepto às religiões cristãs, mas pense em Cristo como filósofo, e verá que suas palavras diziam muito. Jesus Cristo não escreveu livros, e suas palavras são a nós trazidas por relatos de seus discípulos. Boa parte das palavras de Jesus são coisas que perdemos para sempre.

Em 1600, a Igreja Católica, a mesma que seguia o amor pregado por Jesus, queimou Giordano Bruno, filósofo e cientista, acusado de heresias. Bruno foi apenas um em meio a milhares. Não teve direito a fala durante a execução, sua voz calada por um pedaço de madeira na boca. Giordano Bruno deixou uma série de obras, mas seu conhecimento não escrito são coisas que perdemos para sempre.

Quando, em 1933, o Partido Nazista chegou ao poder, iniciou-se uma política de segregação monstruosa. Milhões de mortes aconteceram por escolha de uma população sedenta por poder. As milhões de vítimas da guerra são coisas que perdemos para sempre.

As milhares de vidas que são perdidas diariamente pela violência. As milhares de mentes que se perdem na pobreza. As milhares de almas que são destruídas pelo ódio. São coisas que perdemos todos os dias. E para sempre. 

Se Sócrates não fosse ouvido, não seria lembrado. Se Jesus não fosse amado, não seria lembrado. Se o que Giordano Bruno escreveu não fosse estudado, não seria lembrado. Se o ser humano tivesse empatia pelos seus iguais, não haveriam tantas perdas. 

Amor, vidas, ideias, almas, seres vivos. São coisas que perdemos para sempre. Mas até quando? Quando? Quando? Quando? Quan...

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