Reflexões de um reflexo
Enquanto a chuva caía
Com suas gotas sem via
Ele encarava a si mesmo
Seu reflexo perdido, a esmo.
"Quem és tu, que a mim olha?"
Pergunta o jovem, com triste voz
"Por que é como eu, por que fez tal escolha?
Se parece comigo, mas não nada entre nós"
"Ora, que hipocrisia"
Responde o reflexo, taciturno
"Eu sou você, um animal noturno,
Sem tirar nem pôr, sem nenhuma heresia!"
"Por que, então, estes olhos chorosos?"
O garoto diz, desesperado
"Este olhar triste, estes braços machucados?
O que houve, reflexo, que sentidos morosos!"
"Me machuquei, pobre criança"
O reflexo diz, com voz cansada
"Caímos, caímos, em uma vil dança
Nos tiraram nossa alegria, nossa esperança
Nos deixaram vazios, em uma noite calada
Nos fizeram sofrer, insensivelmente
Nos tornaram cruéis, uma terrível semente
E eu fui fraco, minha criança, e caí, e caí."
"Eu sinto muito, pobre reflexo
Sofreste um tormento complexo
E eu mal posso ajudá-lo, fadado a ser como ti
Hei de sofrer, pois és como eu, e eu já vivi.
Hoje, reflexo, já não existo, e resta você, com fé e calma
Salvar o resta de nossa bela alma."
E a chuva caía
Com suas gotas sem via.
Por Marcelo Ramos
Comentários
Postar um comentário